Hoje, a nossa entrevistada é a diretora administrativa da Adepar (Associação dos Defensores Públicos do Paraná), Paula Grein Del Santoro Raskin.
Paula é paranaense de Curitiba, formada na PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e Defensora Pública no Paraná desde 2013.
Adepar – Qual a sua relação com a Defensoria?
Paula Raskin – Fui estagiaria voluntária na Defensoria Pública durante as minhas férias em 2005. À época a Defensoria era vinculada à Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado e sequer possuía computadores. A estrutura era extremamente precária, contudo, foi um excelente aprendizado. Após a aprovação no concurso em 2013, busquei a Defensoria a fim de compreender melhor o trabalho na prática. Acabei ingressando na instituição em agosto de 2013, na área cível, alguns meses antes da posse.
Adepar – Nos fale um pouco sobre outras experiências profissionais suas?
Paula Raskin – Comecei a fazer estágio ainda no primeiro ano da faculdade, com o objetivo de compreender exatamente qual seria meu papel após formada. Passei pelo Judiciário, Procuradoria do Estado e escritórios particulares nas áreas de direito previdenciário, tributário, criminal e ambiental. Fiz pós-graduação em direito processual civil na PUCPR e acabei me dedicando aos estudos para concursos públicos logo após a conclusão do curso.
Adepar – Qual foi o motivo pelo qual você escolheu ser Defensora?
Paula Raskin – Apesar de ter estagiado por alguns meses na Defensoria, possuía pouco conhecimento sobre o real papel da instituição. Foi no meu último estágio, em um escritório especializado em direito ambiental que o advogado, juiz federal aposentado, afirmou que eu possuía perfil de Defensora Pública. Assim, iniciei os estudos direcionando ao primeiro concurso da Defensoria e logo me encontrei. O curso de direito nunca foi fácil para mim. Não compreendia como a análise da lei podia ser tão dissociada da realidade, como ações se transformavam em artigos e direitos em meras intenções legais. Entrei na faculdade de “humanas” buscando, exatamente, humanidade, mas acabei encontrando isso apenas dois anos após formada, na Defensoria Pública.
Adepar – Então, o que é ser Defensora Pública, Paula?
Paula Raskin – Ser Defensora Pública para mim é enxergar quem é invisível, ouvir quem nunca é ouvido, argumentar quando muitos já se calaram. É mais do que um cargo público, é uma forma de representar uma parcela da população indiferente e, por vezes, irrelevante aos olhos do Estado. Considero que o papel de um Defensor vai muito além da representação processual. A educação em direitos permite a progressiva inserção social da população na tomada de decisões que definem os rumos do país, sendo este, para mim, um dos mais belos objetivos desta instituição. Devemos ser, efetivamente, um instrumento de voz e poder popular.
Adepar – Por que você decidiu entrar para a Adepar?
Paula Raskin – O trabalho da primeira gestão da Adepar foi digno de muitos elogios, com conquistas que marcaram a estruturação da instituição. Acompanhar a difícil missão de representar a vontade de tantos associados e, principalmente, lutar pelos seus interesses, foi o que me motivou a entrar na Adepar. Além disso, se quero me aposentar nesta instituição, preciso fazer parte da sua estruturação de maneira ativa.
Adepar – A Defensoria vive um momento decisivo. Nas próximas semanas, deve ser votado na Assembleia Legislativa do Paraná o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que destina apenas R$ 56 milhões para a Defensoria em 2017, sendo que somente em 2016 serão usados R$ 57 milhões para manter a entidade. A alternativa para a sobrevivência da Defensoria seria a aprovação de uma emenda de R$ 65 milhões. Quais são os principais reflexos para a população e para vocês, Defensores, se aprovada a proposta de R$ 56 milhões?
Paula Raskin – Antes de mais nada, é importante lembrar que a Adepar, ao defender o interesse dos seus associados, deve buscar, paralelamente à valorização da carreira, a estruturação e o crescimento da própria instituição, permitindo que o serviço seja sempre prestado de forma integral e com qualidade.
A redução do orçamento terá um impacto significativo em ambas esferas. Sem a disponibilização do orçamento o Estado inviabilizará a realização de novo concurso e, consequentemente, a própria expansão do atendimento. Os Defensores que já atuam em acumulação de funções permanecerão sem a estrutura e a equipe adequadas, isso sem mencionar o possível fechamento de sedes. Por certo que o maior impacto será sofrido pela população, que continuará com o acesso à justiça restrito.
De qualquer forma, a Adepar não ficará inerte na defesa da autonomia financeira da instituição e no interesse dos associados.