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Campanha recolhe relatos de violência de gênero sofrida por defensoras

Na última semana, durante o XV Congresso Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (CONADEP), a “Campanha Permanente contra a Violência Política e Institucional de Gênero nas Defensorias Públicas” – projeto que reúne defensoras das cinco regiões do País – recebeu destaque e foi apresentada aos participantes. A campanha aborda a violência de gênero dentro das defensorias e o machismo institucional que as profissionais enfrentam.

A campanha aproveitou o momento para lançar um canal na internet com um formulário onde qualquer defensora pode relatar, de forma totalmente sigilosa, algum caso de violência de gênero (acesse o link). Também lançaram um vídeo sobre o tema.

 

A presidenta da ADEPAR, Jeniffer Scheffer, entrevistou a defensora pública do Paraná, Thaísa Oliveira, que faz parte do grupo que encabeça o projeto. Confira:

Conta pra gente de onde surgiu a ideia de fazer este movimento, com este grupo de profissionais, para trazer luz a esta questão dentro das defensorias.
Essa prática surge depois de um acontecimento na defensoria pública do Paraná com uma candidata ao cargo de defensora pública geral. A partir daí, começamos a nos mobilizar em vários estados, por intermédio também da coletiva das defensoras públicas do Brasil. Começamos a pegar relato de mulheres que estão ocupando cargos de poder na instituição, ou defensoras públicas gerais, ou presidentas de associações, ou outras mulheres que já passaram por estes espaços, e a gente se acolhe e começa a colher experiências, de como estas mulheres passaram por estes espaços e de como elas saíram deles, o que é muito importante, porque invariavelmente elas saem com relatos de violência política institucional de gênero.

E depois que lançaram este instrumento de colheita de depoimentos, você consegue mensurar quantas defensoras públicas até hoje já procuraram vocês, ou uma ideia pra gente saber de quanto disso tem aparecido na nossa instituição.
A gente tem um contato muito próximo com as mulheres diplomatas e elas que nos deram essa luz de fazer um formulário, coletar dados internamente, e, no caso delas, elas receberam em menos de 48 horas mais de 100 relatos. Foi uma coisa super bombástica. Então a gente está esperando mais ou menos esse tipo de repercussão na carreira, porque a nossa carreira é maior que a carreira das diplomatas. Depois de recolherem os relatos, foram pensar em alternativas e métodos para tentar combater e, antes disso, prevenir também a violência de gênero na instituição. No nosso caso, o formulário foi distribuído logo depois da prática, então ainda não temos um número exato.

A apresentação da prática durante o CONADEP também falou sobre um estudo, um levantamento que foi feito por vocês, com uma empresa contratada para levantar como a prática do machismo se dá dentro das defensorias. Fale um pouco sobre isso.
A gente contratou o Instituto Alziras. Quem nos auxiliou foi a advogada Roberta Eugênio. Nossa ideia inicial sempre foi demonstrar que isso é uma questão sistemática, não é pontual, e que existem estudos sobre isso. Porque sempre quando a gente fala sobre violência de gênero a gente cai em achismos, a gente cai em casos pontuais, e a gente quis trazer uma coisa acadêmica, uma pesquisa, pra mostrar que isso tem acontecido em vários lugares, com métodos muito semelhantes e que refletem uma postura, uma conduta nestes espaços de poder com a presença feminina.

Vocês apresentaram a prática e distribuíram o formulário para as defensoras no Congresso. O que vocês esperam que elas façam com isso, que apresentem seus depoimentos? E o que vocês vão fazer com este material depois?
A gente acha que falar é um primeiro passo muito importante, que representa um processo de cura individual mesmo. É o início de um processo de cura dessa mulher, porque quando você consegue verbalizar, você já está conseguindo se auto curar daquilo que aconteceu. E a ideia – porque a gente não tem nem condição de dar apoio individual, seja psicológico, seja jurídico – é coletar dados e, com estes números, pensando no futuro, criar um observatório de violência de gênero nas instituições, e pensar em conjunto, mecanismos pra gente enfrentar essa violência dentro da nossa instituição.

Obrigada, Thaísa. Faço um apelo às defensoras públicas do Estado do Paraná que sofreram ou sofrem algum tipo de violência de gênero institucional, seja em cargos de chefia, seja na sua atuação diária, que relatem estes episódios no formulário criado pelo movimento, para que possamos mapear essas situações, e com isso criar mecanismos para evitar que isso volte a acontecer.

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